quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cultura de Comunicação - Antes não ter do que achar que tem...

Dia desses fui procurado por uma antiga chefe e atual grande amiga, que precisava de um orçamento para um folder. Coisa simples, duas dobras, papel razoável, algumas fotos institucionais e outras de produto, tiragem pequena (cinco mil impressos), enfim... nada que minha singela experiência na área não desse conta. Além disso eu estava, como ainda estou, numa entresafra braba, saindo de uma campanha política, e segurando a onda com um freela aqui e outro ali, portanto, o negócio era agarrar a oportunidade e fazer um bom trabalho.

Durante 3 dias sem parar, contatei os profissionais que ao meu ver seriam mais indicados para me ajudar na empreitada, pois não estava a fim de fazer qualquer coisa, queria dar um "up" no meu portfólio de iniciativa privada, cotei fotógrafa, redatora, gráfica e cheguei a um valor que não se tratava de uma pechincha, mas também era condizente com o trabalho que cada um ia ter, incluindo aí reuniões, viagens para fotos, locação de estudio, e o trabalho deste humilde servo que vos relata.

Mandei o orçamento com fé no taco, afinal de contas era uma indústria farmacêutica de grande porte, com um catálogo de produtos respeitável, o que me permitiu acreditar que aquele valor estaria dentro de uma perspectiva mínima de faturamento incluindo aí as negociações e "chorinhos" daqui e dali.

Resultado: Silêncio absoluto... Foi como uma agressão velada, ninguém deu retorno, nada foi dito... Cobrei caro? Me experessei mal na carta de apresentação? Não sei. Só sei que passei um bom tempo justificando aos meus pacientes colaboradores a recusa, não sou de regatear junto às necessidades alheias, mas acredito que os preços não eram exorbitantes, a visão do cliente sim.

Muitas empresas se agarram a lei da oferta e da procura de forma um tanto negligente, buscando gastar o mínimo e obter o máximo, sem se dar conta que o trabalho de profissionais de comunicação não se difere do trabalho de Químicos, Engenheiros ou mesmo Administradores, ele exige conhecimento, investimento em recursos físicos e intelectuais, além de um tremendo jogo de cintura para negociar o inegociável, neste caso, o bom gosto e a qualidade impressos no material final.

Acho interessante quando desenvolvo um layout para web site por exemplo e o programador cobra para "funcionalizar" a coisa, o triplo do que cobrei pela criação alegando que a arte é muito complexa, e dará muito trabalho para ser adequada ao ambiente digital. Isso significa a grosso modo que meu capricho vai me custar caro não é? Melhor seria então fazer algo tosquinho e vender o vira-lata ao cliente como se fosse Pittbull. E o pior é que existe a assombrosa possibilidade do serviço ser aprovado!

Por isso respeito empresas que não investem em propaganda, e deixam isso bem claro a quem as procura, mandam fazer um banner na esquina, imprimem uns cartões na jato de tinta e ligam para todos os clientes todos os dias para saber se precisam de alguma coisa. Pois estas estão empenhadas em economizar de verdade, buscam alternativas para gastar pouco sem pedir muito. Diferentes são no entanto alguns clientes que investem mal seus recursos, e frustrados com o resultado final, descarregam sua ira, depreciando o trabalho do próximo infeliz que vai lhes prestar este ou aquele serviço, perpetuando a contra-propaganda que assola o mercado, fazendo feio, muito feio.

A cultura de comunicação a meu ver, nasce de uma necessidade de investir de forma responsável, tendo a consciência de que aquele investimento se trata de elemento que irá agregar valor a empresa ou produto, irá gerar necessidades e trazer receita, portanto não deve ser tratado como "problema menor".Seria interessante especular se a citada empresa farmacêutica regateia os custos de algum tipo de materia prima que seja responsável por alguma característica diferencial de seus produtos, o opte por contratar farmacêuticos e químicos "mais baratos" de forma a otimizar custos.

Cultura de comunicação p´ra mim (e acredito que para um monte de gente) é saber que todas as ações realizadas com a intenção de difundir um produto ou marca, devem ser tratadas de forma séria e responsável, utilizando juntamente com a usual lei da oferta e da procura a pouco cultuada mas tão importante qaunto, lei do bom senso. Confiar que o preço cobrado por um profissional é justo (para isso basta olhar para o que se quer e quanto custou o da concorrência), não é só uma forma de valorizar este profissional, mas também de manifestar a vontade de elevar a qualidade dos serviços contratados em detrimento ao conhecimento caseiro da questão.

Tem muito cliente que quer saber mais que o Diretor de Arte, que o Redator, que o Fotógrafo e com isso deforma conceitos estéticos e de mercado em nome de um pseudo cuidado com seu produto, que acaba, por mais que seja produzido de forma profissional e moderna, sendo vendido como fruta na feira, na base da simpatia e do grito do vendedor. O que pode dar certo! Mas também pode dar muito errado!

Finalizo perguntando a alguns clientes que, como nosso querido laboratório, têm um gênio do marketing e dos negócios (as vezes até com curso superior, como exigem os departamentos de RH) zelando por sua marca:

Você confia no diagnóstico de seu médico ? Porque se confiar, é capaz não comprar os medicamentos que você mesmo produz, afinal de contas o médico nem deve ter tomado conhecimento a respeito deles, receitando um similar que lhe trasmitiu muito mais confiaça através de um simples folder, que não custou barato! mas lhe vendeu o produto.